A necessidade de representatividade Pansexual ativa é urgente.

Lua Mota
4 min readJan 14, 2021

De um aspecto geral, é urgente a necessidade de representatividade pansexual como um todo.

A pansexualidade é uma sexualidade — monodissidente — ainda muito mal explicada e representada. Eu, como pessoa pansexual sempre senti falta de representatividade, tanto por parte da mídia, como por pessoas dentro da própria comunidade, e muitos amigues pansexuais com quem conversei ao longo do tempo afirmam sentir essa mesma falta.

O que tínhamos, e ainda temos são: veículos de comunicação e ficções (histórias, séries, filmes, redes sociais) trazendo de maneira superficial o que é a sexualidade ou dizendo rapidamente que “personagem tal é pan” (pois parece ser muito difícil e/ou não haver tempo para explicações concretas, então basta citar *ironia*); explicações rasas e errôneas em correntes de redes sociais; espaços de comunicação/perfis que tratam a sexualidade de forma banal (trazendo o assunto de maneira cômica, descontraída, em memes) — O que não acho ruim de fato, é bom rir um pouco no meio de tanta desinformação, porém tratar sempre de assuntos sérios com “risadas” desvaloriza a luta que vem sendo construída com tanta dificuldade; entre outros.

Atualmente existem vários conteúdos, publicações, artigos, vídeos em plataformas e redes sociais discutindo a pansexualidade, alguns trazendo bastante informação mas outros sendo um verdadeiro desserviço para comunidade e isso mostra que falta força ativa dentro da pansexualidade, para tentar evitar esse tipo problema, para discutir nossos valores, princípios, atrações, assim como outras pessoas ativistas vêm fazendo, em outras sexualidades. Já tive muita dificuldade para saber de maneira correta o que era pansexualidade, como era o movimento, quais eram as atrações, principalmente no inicio da minha descoberta e apesar de — comparado a alguns anos atrás — hoje essas informações estarem mais acessível, ainda é muito difícil confiar em algumas fontes, saber diferenciar conteúdos corretos, de textos escritos por pessoas ignorantes…

Quando temos pessoas que representam uma sexualidade de maneira ativa, ajudamos incontáveis outras a evitar problemas iniciais, a repassarem desinformação, a se sentirem pertencentes a um lugar/espaço, a tornar um ambiente mais confortável para que possam ser elas mesmas e principalmente, evitamos preconceitos, injúrias e violências (seja psicológica, verbal e/ou física) que alguém pode sofrer por ignorância.

Na TV, no cinema, na indústria artística principalmente musical, temos famosos que se assumiram pansexuais e/ou levaram a este entendimento, sendo eles: Janelle Monaé, Miley Cyrus, Bella Thorne, Sia, Bredom Urie, Amandla Stenberg, Lachlan Watson, Renato Russo, Preta Gil, Yungblud, Jazz Jennings, Bianca Andrade, e um dos mais recente Reynaldo Gianecchini.

Todos são muito importantes para a comunidade pansexual como figuras públicas, pois passam certa força e confiança para afirmar/citar a sexualidade sem preocupações. Muitos pansexuais do meu convívio “saíram do armário” para suas famílias mostrando as afirmações de algum dos artistas acima e usando como base para explicar a pansexualidade. Ter alguém que possa ser usado como exemplo para referenciar/explicar sua sexualidade é uma das formas que a representatividade se manifesta. E quando essa pessoa é uma figura pública parece ser mais “fácil” ainda a aceitação e entendimento por parte de quem te cerca (quase como se dessem mais credibilidade para o que você está afirmando por conta de outra pessoa -famosa- estar dizendo também).

Porém, um dos problemas que cercam algumas dessas pessoas públicas é não falar abertamente sobre quando se tem espaço, apenas quando questionados diretamente, defendendo o “prefiro não me rotular mesmo me encaixando mais no termo X”, “não gosto de rótulos mas me identifico como Y”, entre outros.. E esse argumento também é válido, é uma vontade da pessoa, não estamos aqui para discutir ele e sim como isso pode prejudicar a representatividade dentro da comunidade.

É necessário termos pessoas nos inspiram a lutar todos os dias, que possam proporcionar força as outras, que não tenham restrições ao falar sobre elas mesmas, que não escondam seus “rótulos”… Precisamos que nossa comunidade se una, não apenas para diversão/memes, para uma grande festa uma vez no ano, ou quando uma serie fictícia fala que personagem X é pansexual, por 5 segundos. Precisamos que a TV nos mostre, que o cinema nos mostre, que a mídia em geral nos mostre, com propriedade, com seriedade, sem tolerância a preconceitos, sem tolerância as “piadas”… Precisamos fazer com que as pessoas não nos vejam como anormais, como “o diferente”, “o exótico”, como doentes, como promíscuos… Precisamos ser vistos como pessoas, mas acima de tudo precisamos ser vistos.

Quando pedimos representatividade e discutimos a necessidade dela ser ativa dentro da comunidade, não estamos falando de excluir pessoas/identidades, não estamos querendo “roubar” o espaço de outros, invalidando terceiros, ou querendo ser “superiores”. Estamos pedindo visibilidade como pertencentes às orientações possíveis, que lembrem da nossa sexualidade para incluí-la nas lutas, estamos pedindo seriedade e respeito quando nos apresentarem nas ficções e quando nos assumirmos publicamente, para que não seja preciso “esconder” nosso “rótulo” ou afirmar ser de outra sexualidade por ser mais “fácil” de entender. Queremos que nossas pautas de discussão sejam levadas a sério e não como uma “invenção de adolescente das redes sociais”. Queremos apenas respeito e espaço, por isso a falta de representatividade ativa é tão nociva a comunidade e precisa ser vista com urgência.

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Lua Mota

Ativista Pansexual e demissexual, ilustradora, quadrinista e designer. Pessoa não-binária. https://linktr.ee/LuaMota