INCIATIVA:
Desde o início de sua consolidação, a pansexualidade vem enfrentando muitas invalidações e dúvidas a respeito de suas atrações e convicções. Recentemente essa onda de preconceitos vem aumentando, principalmente dentro da comunidade LGBTQIAP+. Diante disto, há uma necessidade de nos posicionarmos dando um basta na situação, ou pelo menos mostrar nossa indignação de uma maneira clara, direta e objetiva.
Uma forma de alcançar esse objetivo seria construir um manifesto, como outras sexualidades fizeram, tendo como espelho principal, nossa irmã, bissexualidade. Em 1990, foi publicado pela revista “Anything That Moves” o Manifesto Bissexual, explicitando a exaustão das pessoas bissexuais, diante de vários estigmas que rondavam (e ainda rondam) a sexualidade. Pensamentos binaristas, sinônimo de junção entre heretossexualidade e homossexualidade, visões transfóbicas, rejeição a outros gêneros… Tudo isso foi desmentido através de um manifesto simples, direto e claro, que continua sendo usado para defesa e afirmação da bissexualidade como atração por pessoas independentemente de gênero até os dias atuais, mais de 30 anos depois.
Devido ao peso e importância que um manifesto carrega principalmente se tratando de uma sexualidade, estamos levantando a mesma proposta para comunidade pansexual.
Manifesto Pansexual — 2021 PORTUGUÊS
A pansexualidade é a atração por pessoas independentemente de gênero. Independentemente de como as pessoas se apresentam ao mundo.
Etimologicamente, o termo “pansexual” é a junção do prefixo grego “pan” (que significa “tudo”/“todos”) e com a palavra “sexual”, ou seja, pansexual é a pessoa cujo se atrai por todos os gêneros.
Pansexualidade não tem nenhuma ligação com a teoria do “pansexualismo” de Sigmund Freud. Essa teoria, que surgiu no início do século passado, em 1915, consiste em um “comportamento mental” que volta TUDO ao sexual. A pansexualidade é uma orientação sexual, que se relaciona com pessoas de todos os gêneros e não com tudo ou todos que nos cercam.
Com essas definições afirmamos que: não toleraremos qualquer invalidação, definição e/ou representação da pansexualidade por pessoas ignorantes, mesmo dentro da própria comunidade. Muitas suposições a respeito do que é a nossa sexualidade são feitas através de desinformações e opiniões preconceituosas.
Nossas atrações não estão ligadas a objetos e/ou a plantas. Assim como não estão ligadas a animais, crianças, pessoas mortas ou qualquer relação sem consentimentos. Nossa sexualidade não tem nenhuma relação com distúrbios, patologias e/ou crimes. Nós não nos atraímos por tudo. Estamos exaustos de sermos alvos de “piadas” e/ou chacotas, não é engraçado. É panfobia.
A pansexualidade não simboliza a obsessão por sexo e não é sinônimo de poliamor. Uma pessoa pansexual pode ser monogâmica, pode ter relacionamentos abertos, pode ser poliamorosa, mas não é uma regra para nos relacionarmos. Não nos compare com promiscuidade, infidelidade e/ou irresponsabilidade afetiva. Esses comportamentos ultrapassam qualquer orientação sexual e estão ligados exclusivamente ao caráter individual do ser humano.
Lutamos pelo simples direito de nos relacionarmos com pessoas, indo contra as imposições da sociedade cisnormativa, heteronormativa e monossexista* que vivemos. Lutamos pelo direito de liberdade que uma visão para além do gênero permite dentro de uma relação afetiva e/ou sexual. Lutamos para que pessoas se sintam pertencentes e dignas, diante de uma população historicamente opressora e ignorante com relação a sexualidades e a diversidade de gêneros.
Estas e outras convicções são em partes e/ou as mesmas de várias sexualidades fluídas para além do monosexual, principalmente a bissexualidade. Assim como a pansexualidade, a bissexualidade é um todo, é uma identidade fluída, que desde sua consolidação luta para o reconhecimento e validação como uma sexualidade que também se atrai independentemente de gênero. Ambas lutam contra o mesmo sistema e a mesma sociedade cisnormativa, heteronormativa e monossexista* que nos violenta diariamente.
Não coloque a pansexualidade e a bissexualidade como rivais. Não coloque NENHUMA sexualidade como rival. Não existe sexualidade superior e/ou melhor que outras. Todas as sexualidades foram criadas para que as pessoas se sintam confortáveis e pertencentes a uma comunidade. E não poderia ser diferente com a bissexualidade e a pansexualidade, por isso não as-diminuam.
Não negue o direito de existência da pansexualidade em virtude de outra sexualidade que luta pelos mesmos objetivos. Todas as sexualidades devem e precisam ser aliadas em razão do padrão de sociedade em que vivemos.
Estamos indignados com aqueles que insistem em invalidar nossas vivências, nossos posicionamentos, nossas convicções; Estamos cansados de ter nossas atrações associadas a desinformações, suposições e patologias; Exigimos respeito e que sejamos ouvidos, pois não toleraremos panfobia.
ENGLISH
INITIATIVE: Since the beginning of its consolidation, pansexuality has faced many invalidations and doubts about its attractions and convictions. Recently, this wave of prejudice has been increasing, especially within the LGBTQIAP+ community. Given this, there is a need to take a stand, putting a stop to the situation, or at least showing our indignation in a clear, direct and objective way. One way to achieve this goal would be to build a manifesto, as other sexualities have done, having as its main mirror, our sister, bisexuality. In 1990, the magazine “Anything That Moves” published the Bisexual Manifesto, explaining the exhaustion of bisexual people, given the various stigmas that surrounded (and still surround) sexuality. Binarist thoughts, synonymous with the junction between heretosexuality and homosexuality, transphobic views, rejection of other genders… All this was denied through a simple, direct and clear manifesto, which continues to be used to defend and affirm bisexuality as an attraction to people regardless of gender to the present day, more than 30 years later. Due to the weight and importance that a manifesto carries, especially when it comes to sexuality, we are raising the same proposal for the pansexual community.
Pansexual Manifesto — 2021 ENGLISH
Pansexuality is the attraction to people regardless of gender. Regardless of how people show themselves to the world.
Etymologically, the term “pansexual” is the combination of the Greek prefix “pan” (meaning “all”) with the word “sexual”, so in a conclusion, pansexual is the person who is attracted to all genders.
Pansexuality has no connection with Sigmund Freud’s theory of “pansexualism”. This theory, which emerged at the beginning of the last century in 1915, consists of a “mental behavior” that relates ANYTHING to the sexual. Pansexuality is a sexual orientation, which relates to all genders, not everything or everyone around us.
With these definitions we state that: we no longer tolerate any invalidation, definition or representation of pansexuality by ignorant/exclusionist people, even within the community itself. Many assumptions about what our sexuality means are made through misinformation and opinions.
Our attractions are not linked to objects or plants. Just as they are not linked to animals, children and dead bodies (or anyone who cannot consent.) Our sexuality has no connection with psychological disorders, pathologies and/or crimes. We are not attracted to everything. We are exhausted from being the targets of “jokes” and teasing. It is not funny. It’s pure and explicit panphobia.
Pansexuality does not symbolize an obsession with sex and is not synonymous with polyamory. A pansexual person can be monogamous, polyamorous and have open relationships, but it’s not a rule for how we relate to people. Don’t compare us to promiscuity, infidelity or affective irresponsibility. These behaviors go beyond any sexual orientation and are exclusively linked to the individual personality of the human being.
We fight for the right to relate to people going against the impositions of the cisnormative, heteronormative and monosexist* society that we live. We fight for the right to freedom that a vision beyond gender allows within an affective or sexual relationship. We fight for people to feel belonging and worthy in front of a population that is historically oppressive and ignorant about “different” sexualities and identities.
These and other beliefs are in parts or even the same as various fluid sexualities beyond monosexuality, particularly bisexuality. Just as pansexuality is a whole, bisexuality is a fluid identity that, since its consolidation, struggles for recognition and validation as a sexuality that also portrays attraction regardless of gender. Both struggle against the same system and the same cisnormative, heteronormative and monosexist* society that violates us daily.
Don’t put pansexuality and bisexuality as rivals. Don’t put ANY sexuality as a rival. There is no sexuality superior and/or better than others. All sexualities were created to make people feel comfortable and belonging to a community. And it couldn’t be different with bisexuality and pansexuality, so don’t diminish or erase them.
Don’t deny pansexuality’s right to exist because of another sexuality that strives for the same goals. All sexualities must and need to be allied due to the standard imposed by the current society we live.
We are indignant with those who insist on invalidating our experiences, our positions, our convictions; we are tired of having our attractions associated with misinformation, assumptions and pathologies; we demand respect and that we be heard, as we no longer tolerate panphobia.
Manisfeto feito por pessoas pansexuais | comunidade brasileira pansexual. Info: manifestopan@gmail.com
Editado: 08 de dezembro de 2021.
Manifesto made by pansexual people | Brazilian pansexual community.
Info: manifestopan@gmail.com
Edited: December 8, 2021.
NOTAS:
Alteração 02/12/2021: Seguindo observações por parte da comunidade pansexual, optamos por substituir o termo “Poligamia” por “Poliamorosa”, tendo em vista que a poligamia é considerada um crime na República Federativa do Brasil. Porém, incluímos em nota que repudiamos o Estado que se diz Laico só levar em consideração a união civil entre duas pessoas, ignorando relacionamentos não monogâmicos.
* Alteração 08/12/2021: Monossexista é a crença de que todas as pessoas têm de se relacionar com apenas um gênero. Em uma sociedade cis-heternomativa o padrão de relacionamento imposto é o cis-hétero e monogâmico. Na frase, levantamos essa questao. Nesse aspecto e contexto, descartamos relacionamentos LGBTQIAP+, por isso o uso do termo.
Monosexist is the belief that all people only have to relate to one gender. In a cis-heternomative society the pattern of relationship imposed is the cis-hetero and monogamous. In the sentence, we raise this question. In this aspect and context, we discard LGBTQIAP+ relationships, hence the use of the term.